A GABELA !! Era uma Vila muito engraçada e a parecer naquele ano de 59, já feita por gente de vistas mais largas, qual Marquês de Pombal e as ruas de Lisboa, porque tendo uma anatomia do espaço já desenhada em largo, como era a rua Central que mesmo em terra macadamizada era recta e de medidas largas tinha as outras ruas todas em ângulos rectos e o casario creio que não ultrapassava o 1º andar. Bastantes eram já as casas destinadas ao comércio e foi lá onde fiz uma compra que ainda guardo: um rádio National que ainda dá uns gemidos e que na minha inocência de novo africano comprei com alimentação a corrente eléctrica e como esta nas roças mal funcionava tive de mandá-lo adaptar a corrente de bateria. Adoro a aparência deste rádio de onda Média, Curta e Longa por ser o meu primeiro e porque nunca vi outro igual ou mesmo parecido. Ainda hoje assim está, o trabalho feito por um amador indiano que tinhas também muito jeito para cozinhar. Um dia fez um petisco e saiu mal. Fez-se pensativo e de repente dispara: já sei porque foi. Esqueci usar o avental… A Gabela, hoje cidade a que não mudaram o nome, tinha uma pequenina estação de caminho de ferro de via reduzida e portanto carruagens de menor porte que desciam e subiam aqueles morros de acesso á Vila a uma velocidade igualmente reduzida. Para baixo, em direcção a Porto Amboim tudo ia bem. Mas para cima quando traziam cargas assisti a um espectáculo inesquecível. A locomotiva a vapor não podia subir com tanto peso. Então o maquinista ou o fogueiro, desatrelavam metade ou parte daqueles vagões e levavam para a estação a primeira parte da composição. Depois de entregarem aquela meia encomenda descia só a locomotiva e a dupla tripulação, engatava a restante carga e lá iam outra vez para a pousar na estação da Gabela. E nos dias de maior cacimbo em que os carris molhados não davam aderência suficiente para as rodas motoras, então, o fogueiro descia e a pé á frente da máquina com uma espécie de regador, depositava areia fina e sêca no carril para evitar que as rodas patinassem. E resultava… Não foi que isso tivesse sido invenção deles. Só que cá, eu conhecia a técnica mas a areia saía automaticamente da própria máquina para o carril, a dose do maquinista. Quanto eu gostava de estar no trabalho e ouvir os apitos estridentes daquelas lobas de fogo que pareciam monstrinhos a sair do nevoeiro quando o vapor á volta delas se condensava e as deixava a nu. Como eu gostava de ouvir o pouca-terra, pouca-terra, acompanhado de vómitos escuros de fumo que inundavam as redondezas e se dissipavam muito além do local onde nasceram! E quando o pedido de ajuda mais intenso era necessário então ouvia-se o apito intermitente e demoradamente qual pessoa em apuros, gritando ou gesticulando pedindo socorro. Então nas oficinas que visitei junto á estação tudo me parecia um local de recreio de crianças em que até os guindastes e macacos se pareciam aos da série de comboios do inglês Tommy! Mas uma coisa que me não passou despercebida foi a do cuidado na manutenção do bom visual das locomotivas que raras vezes não manteriam aquele tom de lavado, conservado e polido que gostamos de ver mesmo nestes monstrinhos de ferro e aço. E então, hoje já não vos posso dar esse conselho porque o desprezo pela conservação do que foram esses objectos é bem patente nos cemitérios onde eles moram, se pudessem contemplar este quadro de um monstro de formas não muito éticas para hoje, com umas entranhas cheias de fogo, metendo para dentro de si muitos milhares de litros de água e ver sair da chaminé intenso fumo preto e de outras partes vapor muito alvo e sibilante, um homem, o fogueiro atirando por aquela boca escancarada a mostrar fogo vivo, lenha ou pás de carvão para que a sua pujança quando pedida pelo outro homem, o maquinista, se mostrasse em força e ver reluzir por entre essa névoa o preto brilhante do corpo e as cintas amarelas que o enfeita, então dir-me-iam quanta razão tenho para ter esta admiração e vaidade de dizer que o espectáculo começou e vai durar na viajem. Parabéns aos amigos que ainda hoje tentam conservar e fazer rodar alguns especímenes, que, não fosse assim estariam votados ao abandono e á voragem da ferrugem. Parabéns ferroviários exemplares!!! Pena tenho de não conhecer profundamente a Gabela pois as minhas passagens por ela foram muito fugazes pois na CADA não nos davam tempo para “Turismo”e um dia que voltei foi mais votado á mostra da Boa Entrada a meus filhos. De- Augusto Rebola "Crónicas da CADA" Esta foi a 3ª Edição. NGA SAKIRILA KINENE!! MBOIM !! :) AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
Clica no Play e sintoniza a nossa RádioAutorCrónicas Da C.A.D.A. ,é um folhetim que conta histórias veridicas de Cadaences e amigos das nossas páginas no FB e aqui do nosso Blog no Site da Comunidade. "Crónicas da C.A.D.A."
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